Desejo de Matar (1974): Vingança, Justiça e a Controversa Reação à Violência.



Desejo de Matar (título original: Death Wish ), lançado em 1974 e dirigido por Michael Winner, é um dos filmes mais icônicos da década de 70, tanto pelo impacto cultural que encantou quanto pela intensa discussão social que suscitou. O filme é baseado no romance homônimo de Brian Garfield e estrelado por Charles Bronson como Paul Kersey, um pacato arquiteto de Nova York que, após um brutal ataque contra sua família, se transforma em um vigilante determinado a fazer justiça com as próprias mãos. Este artigo explora os detalhes dessa obra polêmica, analisando seu enredo, a profundidade de seus personagens, o impacto na cultura popular e sua reflexão sobre a justiça e a violência.


Sinopse

A história de Desejo de Matar começa com Paul Kersey, um homem de meia-idade que vive tranquilamente com sua esposa Joanna (Hope Lange). Paul é um arquiteto liberal e pacifista, que nutre um forte desejo por harmonia e estabilidade. Essa tranquilidade é interrompida brutalmente quando sua esposa e filha, Carol, são atacadas por três crimes em um assalto que termina com o assassinato de Joanna e a violação de Carol, que fica catatônica após o trauma. Devastado pela perda e pela falta de justiça, Paul começa a compensar suas convicções. Ele acabou embarcando em uma trajetória de vingança, patrulhando as ruas de Nova York à noite, atraindo vítimas e fazendo-o como juiz e executor. Com o tempo, ele se torna uma figura misteriosa que aterroriza os criminosos e faz a população questionar as fronteiras entre justiça e vingança.


O Personagem de Paul Kersey: Transformação e Motivação

Paul Kersey é protagonista um complexo e cheio de nuances. No início, ele é mostrado como alguém pacífico, defensor de soluções não-violentas, e parece um cidadão exemplar. Sua transformação em vigilante é desencadeada por uma série de eventos traumáticos que causam uma profunda desilusão com o sistema de justiça. Bronson interpreta Kersey de forma contida, transmitindo a transição de um homem comum para alguém que envelhece à margem da lei. Essa transformação não é apenas uma resposta ao dor pessoal, mas também uma forma de protesto contra um sistema falho. Kersey acredita que, ao agir por conta própria, está preenchendo uma lacuna deixada pela polícia e pela justiça.


Contexto Histórico: Nova York na Década de 70

O filme reflete o cenário urbano de Nova York nos anos 70, uma época marcada pela alta criminalidade e pela sensação generalizada de insegurança. Naquele período, a cidade era vista como um lugar perigoso, repleto de criminalidade, onde a população sentia que a polícia era incapaz de garantir a segurança. Desejo de Matar explora essa angústia coletiva, apresentando um personagem que decide lutar contra a violência com as próprias mãos. Em certo sentido, Paul Kersey se torna o reflexo de um sentimento de frustração que muitos novos-iorquinos da época experimentavam. O filme também captura uma mudança de mentalidade entre o pacifismo dos anos 60 e o clima mais tenso e reativo dos anos 70, que abraçava atitudes mais severas em relação ao crime.


Temas Principais: Vingança, Justiça e Moralidade

Um dos temas centrais de Desejo de Matar é uma linha tênue entre justiça e vingança. A busca de Kersey por vingança se torna um comentário sobre a ineficiência da polícia e do sistema judiciário. Ao abraçar o vigilantismo, ele passa a questionar até onde um cidadão pode ir para se proteger e proteger sua comunidade. No entanto, o filme evita respostas simples, pois Kersey, embora visto como um herói por alguns, também começa a perder a própria moralidade ao cometer atos de violência de maneira impiedosa.

A moralidade do personagem também é desafiada pelo fato de que suas ações podem inspirar um ciclo de violência. Ao agir como juiz, ele estimula o debate sobre o uso da força e o quanto a sociedade deve ou não permitir que os indivíduos tomem a lei em suas próprias mãos. Para muitos críticos, o filme se posiciona como uma análise da psicologia do vigilante e das repercussões sociais de uma justiça subjetiva e pessoal.


A Controvérsia e Recepção Crítica

Desejo de Matar gerou fortes reações e divisões críticas. Para alguns críticos, o filme oferece um olhar perturbador sobre a violência e o vigilantismo, levantando questões éticas. Outros, no entanto, o criticaram como uma glorificação da vingança. Em meio a esse debate, uma performance de Charles Bronson foi amplamente elogiada, estabelecendo-o como uma figura dura em Hollywood. A controvérsia em torno do filme ajudou a elevá-lo ao status de culto, e ele foi acompanhado por várias sequências ao longo das décadas de 80 e 90, que exploraram ainda mais o conceito de justiça pelas próprias mãos.


A Influência na Cultura Popular e o Legado

Desde seu lançamento, Desejo de Matar desenvolveu uma série de filmes sobre vigilantes e juízes urbanos, moldando um subgênero inteiro de filmes de ação e suspense. Filmes e séries que lidam com personagens que desafiam a lei para fazer justiça seguem o caminho traçado por Paul Kersey. Este filme abriu portas para obras que abordam a mesma ambiguidade moral e o dilema de como combater o crime em uma sociedade em que a justiça pode parecer insuficiente. Mesmo depois de décadas, o impacto de Desejo de Matar se mantém forte, e ele continua a ser debatido tanto pelo seu conteúdo controverso quanto pelo seu papel na transformação do cinema de ação e suspense.


Conclusão

Desejo de Matar permanece um filme potente e provocador, que desafia o público a refletir sobre os limites da justiça e as consequências do vigilantismo. A jornada de Paul Kersey é uma crítica implícita à violência e ao mesmo tempo uma tentativa de entender o desejo humano de justiça e segurança. Com uma narrativa envolvente e uma atuação marcante de Charles Bronson, o filme se estabelece como uma peça icônica que captura as preocupações urbanas dos anos 70 e levanta questões que se destacam na sociedade atual. O impacto cultural de Desejo de Matar vai além de seu enredo, pois inaugura uma discussão sobre como lidamos com o crime e a necessidade de justiça em uma sociedade complexa e imperfeita.

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